Precisamos de mais política. Da boa política. Da política sem populismo. Da política que saiba ouvir as demandas das comunidades e estabelecer prioridades nas decisões.
Estas concepções são do administrador de Empresas, do bancário licenciado da Caixa Econômica Federal e prefeito de São Cristóvão desde janeiro de 2017, Marcos Santana que fará 65 anos na próxima sexta-feira, dia 8.
A quase totalidade do que Marcos Santana fala que é preciso, ele próprio executa e terá executado nestes oito anos em que está e esteve prefeito da quinta maior idade sergipana.
Certamente por isso, ele foi reeleito em 2020 e fez o sucessor neste 2024 na figura de Júlio de Marcos Santana - sim, porque desde a invenção da reeleição nos três níveis de Executivos brasileiros em 1998 nunca um prefeito sancristovense elegeu um sucessor.
Mas na esfera deste Marcos Santana em questão, reeleger-se e fazer o sucessor não é tudo. Com seu modo “diferente” e perfeccionista de ser e de gerir a coisa pública, ele se fez o melhor prefeito dali dos últimos 50 anos e varreu dos horizontes de São Cristóvão umas urucubacas que faziam o município crescer para baixo feito rabo de cavalo.
Mas qual a receita para isso tudo? “A receita é você estabelecer objetivos exequíveis e ter em mente que, para o atingimento desses objetivos, precisa ter uma ação muito inovadora, sem populismo”, responde ele.
“Quando digo inovação, não estou falando de tecnologia. Estou falando de ideias inovadoras. Estou falando de divisão de responsabilidade. Estou falando, sobretudo, de oitiva da população. De escuta. As pessoas são carentes de escuta”, reforça.
E completa: “Em 2017 eu achava que podia resolver tudo apenas com o que eu queria fazer e com o meu saber pessoal. Não é por aí, e não basta. Tem que ouvir e ouvir. Ouvir é fundamental. Ouvir seus pares da política e ouvir, sobretudo, a população. A política é, antes de tudo, a arte de ouvir”, chancela.
Nesta Entrevista Domingueira, Marcos Santana vai dizer que deixará para Júlio uma São Cristóvão funcionalmente bem diferente daquela que ele recebeu em 2017.
Vai exibir seu espanto diante da forma bruta e nada republicana, segundo ele, como o governador Fábio Mitidieri, PSD, agiu na sucessão de sua cidade este ano, e vai chamar a atenção para o perigo da firmação da direita e da extrema direita nos espaços de poder.
É a partir desta firmação da direta que ele faz o alerta contra a despolitização da política. “Não podemos congelar a essência da política. Não é disso que Aracaju, Sergipe e o Brasil estão precisando nesta hora. As eleições de 2024 não foram definidas no debate político e programático. Foram definidas somente a partir das demandas da população e, preocupantemente, o que surgiu disso foram candidatos em sua maioria com o viés conservador, atrasado - não que as demandas da população não sejam importantes. São”, pondera.
Marcos Antônio de Azevedo Santana nasceu de 8 de novembro de 1959, em São Cristóvão, e é filho José Alves de Santana e Lusinete de Azevedo Santana.
Ele é casado com Sandra Oliveira Rodrigues Santana, uma professora de Arte-Educação. É pai de Flávia Rodrigues de Santana, 44 anos, Fernanda Rodrigues de Santana Góes, 42, e de Paola Rodrigues de Santana, 40. Já tem sete netos.
Desde 2009 Marcos tem formação acadêmica em Administração de Empresas, com especialidade em Gestão Urbana e Planejamento Municipal. Fez a graduação na Fanese e a especialidade na UFS.
Já ocupou cargos no Sindicato dos Bancários do Estado de Sergipe e na Associação Brasileira dos Municípios. Ele entrou na Caixa com 29 anos, em 1989.
Já
tem condição dupla - por idade e por tempo de serviço - de se aposentar
e vai fazê-lo em janeiro, assim que voltar à ativa no banco.
Antes
de se eleger e de se reeleger prefeito de São Cristóvão em 2016 e 2020,
perdeu uma eleição para o Executivo dali em 1988 e outra de deputado
estadual em 2014.
“O meu papel será aquele que a vida exigir de mim”, diz ele, a propósito do que fará na sucessão estadual de 2026.
A Entrevista com Marcos Santana está um primor e muito boa de ser lida.
SERVIR DE EXEMPLO PARA QUEM VEM
“Eu pretendo ser um modelo que Júlio terá para, a partir dos meus erros, ele acertar ainda mais e errar menos. A partir dos erros que eu cometi, ele se sairá melhor, porque vou trazer isso para ele”
JLPolítica & Negócio - Comecemos pelo fim: a partir de 1º de janeiro de 2025 o senhor vai estar na planície, sem mandato. O que planeja fazer a partir dali?
Marcos Santana - Meu projeto é continuar pensando a cidade de São Cristóvão, auxiliando o prefeito Júlio de Marcos Santana, pensando Sergipe, tentando aprender e a fazer mais e melhor a política.JLPolítica & Negócio - Isso implica que o senhor tenha que ser secretário municipal?
MS - Não necessariamente, mas serei um secretário no Governo dele. Já está definido, mas será em uma área que prefiro não revelar agora em respeito ao anúncio que o prefeito eleito fará na hora certa à sociedade.JLPolítica & Negócio - Como secretário, o senhor pretende ter que inferência sobre o futuro Governo de Júlio?
MS - Eu pretendo ser um modelo que Júlio terá para, a partir dos meus erros, ele acertar ainda mais e errar menos. A partir dos erros que eu cometi, ele se sairá melhor, porque vou trazer isso para ele.
PREOCUPANTE AVANÇO DA EXTREMA-DIREITA
“Saiu um retrato que, para mim, é preocupante do ponto de vista ideológico. E esse retrato bate também com o Brasil e portanto não é somente de Sergipe. Nós tivemos uma eleição que garantiu um avanço significativo da direita e também da extrema-direita”
JLPolítica & Negócio - O senhor concorda que o Estado de Sergipe vive uma entressafra de lideranças políticas no campo estadual?
MS - Concordo plenamente. Acho que, com o desaparecimento de políticos como Marcelo Déda, João Alves, e com, digamos assim, a não-eleição de Jackson Barreto na última campanha para o Senado, com o desaparecimento desses grandes nomes nós vivemos em um momento de busca de novas lideranças políticas em Sergipe. Creio que seja uma entressafra, efetivamente.JLPolítica & Negócio - Pela sua visão política, qual foi o retrato futuro da política do Estado que saiu das eleições municipais deste ano?
MS - Saiu um retrato que, para mim, é preocupante do ponto de vista ideológico. E esse retrato bate também com o Brasil e portanto não é somente de Sergipe. Nós tivemos uma eleição que garantiu um avanço significativo da direita e também da extrema-direita. E isso se deu sem nenhum debate político digno deste nome. O que me incomoda, portanto, é que as eleições de 2024 não foram definidas no debate político e programático. Elas foram definidas somente a partir das demandas da população e, preocupantemente, o que surgiu disso foram candidatos em sua maioria com o viés conservador, atrasado - não que as demandas da população não sejam importantes. São. Mas não podemos congelar a essência da política. Não é disso que Aracaju, Sergipe e o Brasil estão precisando nesta hora.
JLPolítica & Negócio - O que é que o senhor vê surgindo de novo neste horizonte? Vê nomes novos por aí?
MS - O problema é exatamente este: não vejo nomes novos por aí. Todos os nomes que hoje estão se colocando já são testados e com atuação política há algum tempo. Não há nenhum nome novo-novíssimo surgindo.
QUE DEVE CONTER UM PROJETO PRA SERGIPE?
“No mínimo, deveria ter como base uma mudança no fluxo do desenvolvimento de Sergipe. Esse projeto tem que partir do pressuposto de que Sergipe não pode mais depender exclusivamente de Aracaju como seu polo de desenvolvimento”
JLPolítica & Negócio - O senhor sente falta de um projeto de futuro para Sergipe em pauta?
MS - Ah, é do que mais sinto falta. Sinto bastante falta. E sinto que, desde a última eleição estadual, não consegui ver em nenhum dos dois lados qualquer projeto para Sergipe que eu possa considerar inovador.JLPolítica & Negócio - Este projeto deveria ter o quê como base?
MS - No mínimo, deveria ter como base uma mudança no fluxo do desenvolvimento de Sergipe. Esse projeto tem que partir do pressuposto de que Sergipe não pode mais depender exclusivamente de Aracaju como seu polo de desenvolvimento. Sergipe tem que olhar mais para si como um todo. O que estou dizendo é que Sergipe tem que olhar mais para o seu interior. É aqui que estão três quartos da população sergipana e muito das suas capacidades empreendedoras e desenvolvimentistas.
JLPolítica & Negócio - O senhor não acha que Sergipe tem que olhar também para outros ativos que não sejam somente os dos recursos minerais?MS - Sem dúvida. Sergipe tem que olhar também para outros condições que não são mais as minerais, que não sejam os minerais fósseis, que estão condenados. Nem é que estejam fora de moda - eles até continuarão na moda por algum tempo, mas estão condenados pela falta de sustentabilidade, por aquilo que significam enquanto ameaça à existência humana. Eles são hoje uma pauta negativa e necessitamos de pauta positiva.
DA IMPORTÂNCIA DE PENSAR DIFERENTE
“Diria que é complexo julgar a mim mesmo, mas me considero uma pessoa com ideias diferentes daquelas que temos visto aí até hoje. Diria até com ideias fora da ordem em determinados aspectos”
JLPolítica & Negócio - Qual será o seu papel na sucessão estadual de 2026?
MS - O meu papel será aquele que a vida exigir de mim.JLPolítica & Negócio - O senhor se consideraria um nome novo, apesar dos oito anos de serviços prestados a São Cristóvão? Se consideraria um sujeito emergente na política?
MS - Diria que é complexo julgar a mim mesmo, mas me considero uma pessoa com ideias diferentes daquelas que temos visto aí até hoje, e geralmente por aquilo que já respondi aqui neste começo de entrevista. De modo que me considero uma pessoa com ideias diferentes. Diria até com ideias fora da ordem em determinados aspectos.
JLPolítica & Negócio - Com ideal suficiente para rechaçar as ideias que estão aí?
MS - Com todas as ideias necessárias para rechaçar o que está aí. A condução, o modelo que tem sido utilizado na política e nas gestões públicas, é um modelo que pretendo, não digo nem combater, mas operar na contramão. E contribuir para que a gente tenha a aplicação daquilo que considero um modelo mais adequado para o momento atual do Estado de Sergipe.
O PERIGO QUE VEM DA DESPOLITIZAÇÃO
“Na verdade, quero dizer o seguinte: o resultado da eleição de Aracaju me preocupa no aspecto político, porque em 2026 poderá repetir o que foi 2024. Ou seja, uma eleição definida em uma despolitização completa. Esse é um sinal perigoso”
JLPolítica & Negócio - O senhor ousaria dizer que Sergipe e alguns sergipanos pensam pequeno, pensam na zona de conforto?
MS - Não diria isso. É por isso que eu falei a palavra diferente. Eu não quero depreciar ninguém - e isso já é ser diferente. Estou dizendo que esse modelo que está aí é um que não é o mais adequado para ampliar o desenvolvimento do Estado de Sergipe.JLPolítica & Negócio - O resultado das eleições de Aracaju sinaliza alguma mensagem específica para a sucessão estadual de 2026?
MS - Sinaliza, e isso é óbvio. Na verdade, quero dizer o seguinte: o resultado da eleição de Aracaju me preocupa no aspecto político, porque em 2026 poderá repetir o que foi 2024. Ou seja, uma eleição definida em uma despolitização completa. Esse é um sinal perigoso.
JLPolítica & Negócio - O senhor vê indícios disso numa pré-candidatura de Valmir de Francisquinho, por exemplo?MS - Sem dúvidas que vejo. Através de Valmir, pode se manter a não-política em pauta, e isso não é bom de jeito nenhum. A gente precisa discutir as questões viscerais da política. A política não pode ser abafada de uma maneira, inclusive, falsa, porque todos eles sabem que a política é um instrumento fundamental de mudança da realidade. Sergipe não pode ir pela contramão disso.
QUERÊNCIA POR VALMIR É REAL E PERIGOSA
“Hoje ela é real. Valmir de Francisquinho é um líder popular, carismático, com viés populista, e esse é um modelo que venceu muitas eleições deste ano. Foi um modelo vitorioso em muitas cidades sergipanas, e é o que eu não aprovo”
JLPolítica & Negócio - Que leitura o senhor faz da suposta querência popular de Valmir de Francisquinho como candidato a governador de Sergipe em 2026?
MS - Eu diria que hoje ela é real. Valmir de Francisquinho é um líder popular, carismático, com viés populista, e esse é um modelo que venceu muitas eleições deste ano. Foi um modelo vitorioso em muitas cidades sergipanas, e é o que eu não aprovo. Não referendo e não pratico, em absoluto.JLPolítica & Negócio - Mas qual seria a melhor explicação para a vitória de Emília Correa?
MS - A eleição da Emília foi definida sem nenhum debate político. E o contrário disso é fundamental - é preciso a boa política. Porque agora foi oferecido algo e uma opção que são apenas uma forma diferente de estratégia eleitoral. Repito: favoreceu-se uma estratégia eleitoral e esqueceu-se da política.
JLPolítica & Negócio - Tem um culpado específico para a derrota de Luiz Roberto?
MS - Não tenho elementos capazes para estabelecer esse julgamento.
EM ANDRÉ, ANTÍDOTO CONTRA FÚRIA DE FÁBIO
“André Moura foi muito importante no processo de São Cristóvão deste ano. Eu quis ser pragmático na aliança com André Moura. Eu jamais pensei que Júlio fosse para o União Brasil. E foi a situação da política que lhe levou a isso. Me vali da aliança com André para me defender da fúria do governador Fábio Mitidieri contra nosso projeto”
JLPolítica & Negócio - A derrota de Edvaldo Nogueira o inabilita para uma disputa ao Senado em 2026?
MS - Não sei ao certo se o que aconteceu em Aracaju foi a derrota de Edvaldo Nogueira.JLPolítica & Negócio - E as vitórias de André Moura no campo municipal de diversos municípios podem assegurar o que em favor dele no projeto de Senado?
MS - Acho que asseguram boas condições futuras, sim, na medida em que você consolida aliados em vários municípios sergipanos por causa dessas vitórias. E se é um projeto efetivo de candidatura ao Senado, acho que ele sai fortalecido sim desse pleito.JLPolítica & Negócio - André foi importante no processo de São Cristóvão?
MS - André Moura foi muito importante no processo de São Cristóvão deste ano. Muito particularmente. Porque eu quis ser pragmático na aliança com André Moura. Devo dizer que, no início, eu jamais pensei que Júlio fosse para o União Brasil. E foi a situação da política que lhe levou a fazer isso.
GOVERNADOR ESTABELECEU DUELO DESIGUAL
“Foi um duelo titânico, de desiguais. Foi um duelo de Davi contra Golias. Asseguro: foi um duelo injusto. O Governo do Estado utilizou todas as ferramentas que teve contra a possibilidade do nosso projeto eleitoral. O Governo do Estado se utilizou do aparato da segurança para fazer isso - foi abuso e isso precisa ser revisto”
JLPolítica & Negócio - O senhor se ressente agora desse pragmatismo?
MS - Não. Muito pelo contrário, não me ressinto não. O que eu quero dizer é o seguinte: eu me vali da aliança com André Moura para me defender da fúria do governador Fábio Mitidieri contra nosso projeto.JLPolítica & Negócio - Do ponto de vista do embate político com o Governo do Estado, a sucessão de São Cristóvão foi um duelo de iguais?
MS - Não foi. Foi um duelo titânico, de desiguais. Foi um duelo de Davi contra Golias. Asseguro: foi um duelo injusto. O Governo do Estado utilizou todas as ferramentas que teve contra a possibilidade do nosso projeto eleitoral. O Governo do Estado se utilizou do aparato da segurança para fazer isso - foi abuso e isso precisa ser revisto. Veja: o Governo do Estado nunca recebeu o prefeito do município de São Cristóvão. Aliás, em 770 dias de Governo, o prefeito de São Cristóvão foi recebido uma única vez e não fui para pedir nada. Fui lhe para apresentar projetos com recursos já garantidos, mas, por respeito ao governador do Estado e ao Governo do Estado.
JLPolítica & Negócio - O senhor diria que Fábio Mitidieri foi pouco republicano?
MS - Eu diria que não foi republicano em momento algum. Não foi.
DA RECEITA PARA COMANDAR BEM
“A receita é você estabelecer objetivos exequíveis e ter em mente que, para o atingimento desses objetivos, precisa ter ação muito inovadora, sem populismo. Estou falando de divisão de responsabilidade. Sobretudo, de oitiva da população. De escuta. As pessoas são carentes de escuta”
JLPolítica & Negócio - O senhor espera que ele distenda isso e tenha uma relação melhor com o prefeito Júlio?
MS - Por óbvio, espero. Tenho essa esperança, até porque ele deu um discurso aqui na eleição dizendo assim para o adversário de Júlio: “Olha, você vai ganhar a eleição, no dia 1º de janeiro vai assumir, e em no dia 2 de janeiro eu quero você no meu gabinete para a gente começar a trabalhar por São Cristóvão”.
JLPolítica & Negócio - O senhor espera que essa pessoa no gabinete de Fábio seja Júlio?
MS - Sim. Se ele tem respeito aos 22 mil votos que ele teve em São Cristóvão para governador, precisa chamar o meu candidato e o nosso futuro prefeito, que foi o vencedor, para fazer a mesma coisa que chamaria se o eleito fosse o dele.JLPolítica & Negócio - Qual é a receita para um gestor público se sair bem no comando de um município ou de um Estado?
MS - A receita é você estabelecer objetivos exequíveis e ter em mente que, para o atingimento desses objetivos, precisa ter uma ação muito inovadora, sem populismo. Quando digo inovação nesse caso, não estou falando de tecnologia. Estou falando de ideias inovadoras. Estou falando de divisão de responsabilidade. Estou falando, sobretudo, de oitiva da população. De escuta. As pessoas são carentes de escuta.
DA RECEITA PARA COMANDAR BEM II
“Em 2017 eu achava que podia resolver tudo apenas com o que eu queria fazer e com o meu saber pessoal. Com a minha pretensão individual. Não é por aí, e não basta. Tem que ouvir e ouvir. Ouvir é fundamental. A política é, antes de tudo, a arte de ouvir”
JLPolítica & Negócio - O senhor chegou ao poder em 2017 seguro disso?
MS - Não. Em 2017 eu achava que podia resolver tudo apenas com o que eu queria fazer e com o meu saber pessoal. Com a minha pretensão individual. Não é por aí, e não basta. Tem que ouvir e ouvir. Ouvir é fundamental. Ouvir seus pares da política e ouvir, sobretudo, a população. É preciso ouvir. A política é, antes de tudo, a arte de ouvir. Eu ouvi três trechos da entrevista que João Campos, o menino prefeito lá do Recife, deu no Roda Viva, e foi incrível. O cara é phoda. Um dos exemplos que ele deu, real, nesse primeiro mandato dele: “Olha, a gente mandou fazer campos de futebol society em todo o Recife, em vários locais da periferia e tal. Fizemos lá em uma comunidade e deu ruim. Dali, chega um meu assessor e diz que a comunidade está fazendo protesto por causa do campo. Mas como? A gente está fazendo um campo. Era um terrão batido lá e a gente está colocando grama sintética e tal? Vá lá para o senhor ver. Fui. E vi que a comunidade não queria o campo da forma como estava sendo feito, porque o campo originalmente não era um polígono regular. Era torto”. Ele usou a palavra troncho, e eles queriam troncho. E assim a Prefeitura tinham que refazer.JLPolítica & Negócio - O erro era na realidade do gestor.
MS - Exatamente. E ele não ouviu antes. E tem que se ouvir a comunidade.
JLPolítica & Negócio - O senhor admite que soube ouvir em sua gestão, ou não foi o suficiente?
MS - Eu acho que aprendi a ouvir. Mas ainda tenho que aprender muito.
LIÇÕES DA VITÓRIA DE JÚLIO
“Podemos tirar lições muito positivas. De que a população, primeiro, reconhece um trabalho da gestão de São Cristóvão que apoiou Júlio, porque essencialmente o que nós dissemos à população foi o seguinte: vocês aprovam o meu mandato. Isso está em todas as pesquisas”
JLPolítica & Negócio - Da vitória de Júlio de Marcos Santana em São Cristóvão, pode se tirar quais lições?
MS - Podemos tirar lições muito positivas. De que a população, primeiro, reconhece um trabalho da gestão de São Cristóvão que apoiou Júlio, porque essencialmente o que nós dissemos à população foi o seguinte: vocês aprovam o meu mandato. Isso está em todas as pesquisas. “Esse aqui é Júlio, é da minha confiança, e ele vai dar continuidade àquilo que nós fizemos”. E a população dizia assim: “Olhe, se você fizer pelo menos 10% do que Marcos fez, ok. Olhe, vou votar nele. Se você botasse um cachorro para eu votar, eu votaria”. Agora veja: para chegar a esse ponto, houve oitiva sobretudo durante os últimos quarto anos. E aí eu estou meio preocupado porque não aconteceu essa compreensão em Aracaju. Porque é claro que Edvaldo Nogueira é um grande gestor. Por que, então? O que faltou nele para chegar a isso? Ou não faltou nada e houve um discurso, como eu já ouvi essa semana, de que a população quis a mudança? Mas que mudança? Mudança para quê?JLPolítica & Negócio - Emília, sozinha, não justifica esse querer?
MS - É isso: não justificaria.
JLPolítica & Negócio - O senhor aposta que Júlio vai saber ouvir?
MS - Júlio vai querer e vai saber ouvir. Se não souber ouvir, não terá sucesso.
DO MUNICÍPIO QUE JÚLIO VAI RECEBER
“Vai receber um município completamente equalizado do ponto de vista das finanças e que tem uma avaliação de aprovação completa da Secretaria do Tesouro Nacional com credibilidade para contrair e obter novos créditos - e eu defendo que tome. Um município institucionalmente muito mais desenvolvido do que aquele que eu recebi em 2017”
JLPolítica & Negócio - Júlio vai receber um município com que característica do ponto de vista de gestão e finanças?
MS - Vai receber um município completamente equalizado do ponto de vista das finanças. Vai receber um município que tem uma avaliação de aprovação completa dos órgãos de controle. Um município que tem avaliação da Secretaria do Tesouro Nacional com credibilidade para contrair e obter novos créditos - e eu defendo que tome. Vai receber um município institucionalmente muito mais desenvolvido do que aquele que eu recebi em 2017. Um município com as estruturas organizacionais bem desenvolvidas. Ainda há muito por fazer, mas bem desenvolvidas. Vai receber um município com, por exemplo, cinco ou seis concursos realizados. Ou seja, com uma massa de servidores revigorada. Vai receber um município com um passivo menor na relação com a população de infraestrutura e de serviços. Veja: não estou falando que é sem. Não. É apenas bem menor do que em 2017.JLPolítica & Negócio - Fazer o próprio sucessor municipal e ter um deputado estadual na figura de Paulo Júnior lhe significa o quê?
MS - Para mim, significa muito, e sou um homem muito gratificado por tudo isso. Porque realmente ter a cidade hoje com um deputado estadual, que não tinha desde 2010, ter sido reeleito, eleger o meu sucessor, é digno. Aqui em São Cristóvão ninguém nunca fez um sucessor. Armando Batalha se reelegeu, como me reelegi, mas ele não fez o sucessor. Lauro Rocha fez o filho prefeito, mas não foi como sucessor. Foi muito depois, em um momento de crise lá, em um contexto totalmente distinto. Para mim, o extrato político que temos hoje é muito significativo.
JLPolítica & Negócio - Qual será o perfil do último Fasc da sua gestão e como o senhor espera que Júlio o trate nos próximos quatro anos?
MS - Será um Fasc cada vez mais diverso, consolidando a pluralidade das manifestações artísticas. Será um Fasc muito mais consolidado no geral. Agora com ampliação do quantitativo de patrocinador, e tenho certeza de que não haverá nenhuma mudança de rota com Júlio. Nenhuma ruptura. Se houver mudança pode ser para melhor. Mas nenhuma ruptura na linha de atuação de Fasc.
Fonte - Site JL Política e Negócios