Desde março de 2024, o projeto “Cidade Mãe Cuida: Cuidando dos Usuários com Diabetes” tem ofertado exames oftalmológicos e outros cuidados para pacientes diabéticos do SUS São Cristóvão. Nesta sexta-feira (24), as equipes da Secretaria Municipal de Saúde de São Cristóvão (SMS), da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e da Universidade Federal de Sergipe (UFS) - parceiras na execução do projeto - promoveram o último dia de atendimentos na UBS Masoud Jalali, concluindo a fase de exames com 498 pacientes assistidos em 10 mutirões espalhados pelas cinco macroáreas de saúde do município.
A iniciativa faz parte do projeto de pesquisa nacional “Prevalência de Retinopatia e Doença Renal do Diabetes no Brasil – RETREND Brasil”, que tem o objetivo de estimar a prevalência de duas condições de saúde relacionadas ao Diabetes Mellitus (DM), a retinopatia diabética (RD) e a doença renal do diabetes (DRD).
Além da retinografia, exame ocular que detecta a retinopatia diabética, foram realizados exames de sangue capilar para realização da Hemoglobina Glicada e Creatinina; exames de urina com medição de Albuminúria e Creatinúria, para detecção de função renal e Doença Renal no Paciente Diabético; e o exame do Pé Diabético, para evitar amputações e sequelas decorrentes.
A coordenadora de Doenças Crônicas Não Transmissíveis de São Cristóvão, Rosely Mota, destaca que, à medida que os resultados da retinografia, que levam em volta de 30 dias para serem entregues, estão indicando o diagnóstico dos pacientes, eles já são encaminhados para o tratamento a laser em uma clínica particular em Aracaju. Já as complicações que não são relacionadas à diabetes, como catarata ou glaucoma, que também estão sendo identificadas, são tratadas no Centro de Especialidades Lourdes Vieira.
“Nós conseguimos perceber até o momento que muitos pacientes que nem imaginavam que tinha algum tipo de complicação já tá conseguindo identificar essas complicações e muitos deles já foram tratados em menos de 15 dias depois de obterem os resultados. O resultado real da pesquisa só vai ser obtido no quando tivermos todos os resultados laudados, mas a meta era atender 476 pacientes e conseguimos ultrapassar. A expectativa é de retornar com essa campanha para atender ainda mais pacientes no futuro”, afirma a coordenadora.
Rosely Mota, coordenadora de Doenças Crônicas Não Transmissíveis de São Cristóvão
São Cristóvão foi a única cidade escolhida para representar o Nordeste nesta pesquisa e a contrapartida da oferta de tratamento gratuito para os pacientes foi um importante passo para completar o ciclo de identificação, realização, tratamento e monitoração dos diagnósticos de retinopatia diabética. A doença é uma lesão ocular causada pela diabetes, em que os vasos sanguíneos na retina podem deixar escapar líquido e sangue, afetando a visão do paciente.
Dr. Gustavo Melo, oftalmologista especialista em retina e coordenador regional do RETREND Brasil, explica que em pessoas diabéticas com comprometimento de retina, é possível desenvolver uma forma mais avançada de retinopatia diabética, uma forma proliferativa que requer tratamento com laser para cauterizar os vasos sanguíneos e diminuir a chance de sangramento ou mesmo descolamento de retina.
“Essas são as causas principais de baixa divisão importante e irreversível que o diabetes pode causar. O laser é o principal tratamento que previne a cegueira pelo diabetes. Então, é fundamental para quem tem essa complicação de diabetes, da retinopatia diabética, ser tratado preventivamente e precocemente para evitar que aconteça algum comprometimento irreversível da visão”, enfatiza Dr. Gustavo.
Educação em Saúde
Como um projeto interdisciplinar de pesquisa que engloba a parceria de diferentes entidades, o RETREND ainda tem reforçado a informação tanto para os pacientes atendidos quanto para os profissionais que fizeram parte do processo. A coordenadora nacional da pesquisa, Dr.ª Daniela Nascimento, pontua que iniciativas como a capacitação de profissionais da Enfermagem na identificação e avaliação do Pé Diabético ocorreram a partir da pesquisa.
“A equipe de coleta do centro Sergipe avaliou os participantes em mutirões, com uma grande organização das equipes das Unidades Básicas de Saúde. Os agentes de saúde tiveram uma importância ímpar no chamamento dos participantes para os mutirões. Além disso, o município de São Cristóvão teve grande envolvimento e representatividade na pesquisa. Estão todos de parabéns! É de extrema relevância que a pesquisa clínica se traduza em ações para o cuidado em rede dos usuários do SUS”, ressalta.
Dr.ª Daniela Nascimento, coordenadora nacional da pesquisa RETREND Brasil realizando a retinografia em paciente
Lucas Rocha, estudante de medicina do último período, participou da pesquisa e evidencia que, para além do diagnóstico e tratamento, o projeto tem sido importante para a propagação do conhecimento da população sobre a retinopatia diabética: “Percebemos a carência de cuidado nessas populações em relação ao diabetes, que é uma doença silenciosa, e que muitos não têm noção do que pode acontecer se esse rastreio não for feito. Então, as pessoas conhecerem que existem esses exames é o mais importante, porque daqui para frente elas sabem que são necessários”.
Lucas Rocha, estudante de medicina
Já a mestranda em Farmácia Jessiane Bispo realça que os pacientes do projeto passaram a ter a possibilidade de saber como está seu estado de saúde. “Conferir a saúde dos olhos, do rim, e ver como está o controle glicêmico, visto que são exames muito importantes para os pacientes que convivem com diabetes”.
Jessiane Bispo, mestranda em Farmácia
A coordenadora de Educação Permanente em Saúde, da Diretoria de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde (DGTES), Socorro Lobato, reforça que o trabalho em conjunto da Secretaria Municipal de Saúde de São Cristóvão foi essencial para o sucesso do projeto: “Finalizamos esse trabalho nesta sexta-feira com um saldo muito positivo. O município de São Cristóvão foi muito feliz em aderir a essa pesquisa, porque beneficiou um grande número de usuários que já faz o controle de diabetes na unidade e esse trabalho está sendo oferecido para agregar e orientar mais os pacientes”.
Acesso à saúde
O acesso ao diagnóstico e tratamento da retinopatia diabética foi um ganho para a Cidade Mãe, pois não são serviços facilmente oferecidos pelo SUS, e demandam um custo muito elevado na rede particular de saúde.
A paciente Poliana Ramos, que já convive com a diabetes há oito anos, estava feliz em conseguir verificar a razão de sua perda de visão no olho esquerdo, depois de tentar por meses por meio do SUS e não conseguir liberação. “Agora eu estou muito feliz, porque é a gente gasta muito com os exames. E assim saindo de graça, para gente é melhor”, comemora.
Poliana Ramos, paciente assistida pelo projeto
José Raimundo Souza costuma fazer exames rotineiramente e aproveitou a proximidade do acesso ao atendimento em seu bairro para checar toda a saúde: “Já sinto vários problemas e ao ficar sabendo de mais um resolvi que vou me cuidar mais um pouco”.
José Raimundo Souza, paciente assistido pelo projeto
Fotos: Dani Santos